DESCUBRA: A Melhor Maneira de Se Aprender Novos Procedimentos na Odontologia

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Uma das minhas áreas preferidas da odonto, junto com a endodontia, é a cirurgia. Ao começar a prática clínica na faculdade, fiz a remoção de um mesio-dens; Um dente erupcionado no palato do paciente, entre os dois incisivos centrais.

Além de fixar tudo que já vinha aprendendo na teoria, foi um procedimento gostoso de se fazer. E foi ai que comecei a tentar fugir das próteses e fazer cada vez mais exodontias.

Mas, com o passar dos semestres e de algumas extrações, na 8ª fase da faculdade, tive a chance de fazer duas gengivoplastias e posso dizer, que este procedimento passou a ser o meu preferido. Além de ser relativamente tranquila, a gengivoplastia mexia com a estética/auto-estima e os pacientes ficavam extremamente gratos.

O caso não é meu, mas vai dizer que o antes e depois não dá uma satisfação?
Antes de terminar a graduação tive a chance de acompanhar uma frenectomia, um procedimento que me interessou bastante, mas logo acabei voltando a minha atenção para outras atividades que tinha que fazer (prazo do tcc estourando haha).

A remoção do freio labial superior foi esquecida por mim até o momento em que tive que fazer ela no meu consultório. Recebi um paciente  com cerca de 30 anos, que tinha um diastema entre os incisivos centrais e ao fazer o exame clínico, confirmei o que ele já sabia, o espaço entre os dentes era causado pelo freio labial.
Diastema causado por freio labial proeminente

Como o paciente estava interessado em fazer o tratamento ortodôntico e tinha um pouco de pressa para instalação do aparelho, marquei a cirurgia para 3 dias após o exame clínico inicial. Na época, durante este tempo conversei com outros dentistas que já tinha feito o procedimento e estudei todo o protocolo clínico.

O material que tinha disponível na faculdade somado a experiência de conhecidos e mais os vídeos disponíveis na internet me proporcionaram conhecimento e segurança suficientes para realização do procedimento.

Eu só não imaginava uma coisa.

A frenectomia superou as minhas expectativas e passou a ser o meu procedimento cirúrgico favorito de se realizar.

Aprendi muita coisa durante esta cirurgia e me diverti MUITO fazendo ela. Além disso, todo o passo a passo estudado foi feito com tranquilidade, o pós operatório foi ótimo e 10 dias depois o paciente já estava com o aparelho instalado.

A odonto é uma área que tem procedimentos complexos de se aprender, mas algo que sempre funcionou para mim ao aprender algo novo foi isso: Estudar o procedimento e possíveis complicações, estabelecer o passo a passo e somar tudo que foi aprendido com a experiência/opinião de dentistas conhecidos.

Claro, tudo tem um limite e cirurgias mais complicadas, caso feitas pela primeira vez, exigem o acompanhamento de pessoas mais experientes; Ou que pelo menos você já tenha assistido o procedimento algumas vezes.

Saber os seus pontos fortes e limites é essencial para que a linha de aprendizado seja sempre crescente.

Equilíbrio entre pontos fortes e fracos é essencial

Abaixo segue o protocolo clínico que utilizei na frenectomia. Junto da descrição de cada passo anexei algumas fotos para facilitar o entendimento e, no final, adicionei o vídeo do Dr. Fernando Giovanella, que me ajudou bastante quando fui realizar o procedimento.

Obrigado por acompanhar este post até aqui! ;)

André Martins - Arriba Dentista

Passo 1: Anestesia:
·         Primeira aplicação na base do freio. Anestesia feita com cuidado para não deformar o tecido da base.
·         Segunda aplicação na parte mais labial/superior do freio
·         Terceira aplicação é transpapilar, entre os incisivos centrais, pela vestibular
·         Quarta aplicação na região de forâme incisivo para bloqueio do nervo naso-palatino

Passo 2: Pinçamento
·         Fixação do freio com o uso de pinça kelly
·         Pode ser feito a partir de um pinçamento único ou duplo
·         Utilizei o único, por me proporcionar mais visão e espaço de trabalho


Pinçamento Simples/Único
Pinçamento Duplo

Passo 3: Incisões:
·         São feitas duas incisões, uma do fundo de sulco até a papila inter-incisiva, de forma supra-periosteal
·         Segunda incisão fechando o vértice, em direção ao lábio
·         Ambas as incisões devem ser feitas do lado direito e esquerdo do freio, cercando o tecido a ser removido
·         Remoção do freio propriamente dito
·         Hemostasia com gaze

No final, após a incisão e remoção do freio, o campo operatório deve estar semelhante as fotos abaixo:
Formato de losango

Representação clínica da incisão
Passo 4: Remoção do segmento interdental
·         A porção do freio que fica entre os incisivos centrais também deve ser removida
·         A incisão para remoção este segmento vai desde a vestibular, até a papila incisiva na região palatina
·         Isto é necessário para remoção do tecido fibroso entre os dentes, que pode causar recidivas do diastema após remoção do aparelho ortodôntico

Passo 5: Fricção com Gaze
·         Deve ser feita entre os incisivos centrais superiores, na região onde foi removida a porção interdental do freio
·         Necessário para remoção das fibras mais internas, que ficam mais em contato com o osso

Passo 6: Dissecção dos Bordos
·         Divisão dos planos mucoso e muscular
·         Isto diminui a tensão entre os bordos da ferida, diminuindo as chances de deiscência de sutura
·         Feito com uma tesoura, que deve ser inserida fechada e removida aberta, separando ambos os planos
·         Ao se fazer isto existe a possibilidade de se encontrar pequenos grânulos, que são glândulas salivares menores. Estas devem ser removidas para evitar a formação de mucoceles no pós-operatório
·         Durante esta etapa o sangramento deve ser controlado constantemente com gaze, para evitar a formação de hematomas pós-operatórios

Passo 7: Sutura
·         Feita quando a hemostasia está sob controle
·         Utilizar fio de seda para evitar úlceras
·         1º Ponto: Realizado no fundo de sulco
·         Após a realização do primeiro ponto, devem ser dados mais 3 a 4 pontos ao longo da ferida

Ponto 1: Fundo de Sulco
Os outros pontos são dados em torno do primeiro, para fechar a ferida
Passo 8: Lavagem com Soro + Pressão com gaze
·         A região suturada deve ser lavada com soro
·         Deve ser pressionada uma gaze na região durante 5 minutos para confirmar a obtenção da hemostasia

Passo 9: Orientações pós-operatórias + Medicação
·         Receitado remédio para dor e solução de clorexidina
·         Não é necessário antibiótico
Para acessar todo protocolo clínico em vídeo, é só clicar na imagem abaixo:


Obrigado e até o próximo post! ;)