O 2º Maior Desafio Que Enfrentei Como Dentista Recém-Formado

Saudades manequins da faculdade
No início de Dezembro, fiz um post falando qual tinha sido a maior dificuldade que enfrentei como dentista recém formado e como muitas pessoas me passaram um feedback bastante positivo, resolvi escrever este texto, com o segundo maior desafio que enfrentei. Boa leitura.
Você como dentista, ou futuro dentista, sabe bem que, durante a faculdade, nós acompanhamos praticamente o semestre todo uns 3 ou 4 pacientes, que necessitam de procedimentos suficientes para cumprimento da produção clínica.

Em grande parte dos dias, eram atendidos dois pacientes em um período (manhã ou tarde), sendo um meu e um da minha dupla de clínica. Assim, como os pacientes já tinham sido avaliados, nós simplesmente seguíamos o plano de tratamento definido junto com os professores e tínhamos cerca de 5 horas para atender duas pessoas.
Muitas vezes o tempo era apertado, para procedimentos de prótese ou alguma cirurgia mais extensa, no entanto, em alguns dias era possível atender sem se preocupar com o relógio.

Quem me acompanha sabe que logo depois de me formar, abri o consultório em sociedade com um colega e logo depois dividi minha rotina em uma outra clínica com um grande fluxo de pacientes.

O movimento no consultório era tranquilo. No entanto, na clínica onde eu atendia passavam, as vezes, mais de 10 pacientes por período por mim.
No início, cada atendimento era uma corrida contra o relógio
Eu sai da faculdade, onde atendia uma pessoa em duas horas, para uma clínica onde o atendimento tinha que se limitar a meia hora, dependendo do procedimento, claro. E isto foi um grande desafio para mim, pois no começo tive dificuldade de fazer as coisas em uma velocidade maior, afinal, a odonto é cheia de detalhes e qualquer coisa deixada de lado pode resultar em iatrogenia, por isso acabava levando um pouco mais de tempo nos tratamentos.

Com o passar de 1 mês neste ritmo de trabalho, percebi que fiquei mais ágil e o relógio deixou de ser o problema que era no início. Contudo, agora o meu desafio era outro.

Os procedimentos iam bem, eu não me preocupava tanto com o tempo, mas o que me pegou de verdade foi a minha comunicação com os pacientes.

Na faculdade, era possível construir um relacionamento com o paciente de forma tranquila e você sabia como a pessoa iria reagir ao que você falasse. Contudo, ao atender mais de dez pessoas em um período, percebi que o jeito que eu me comunicava era apropriado para algumas pessoas e inapropriado para outras.

A norma da clínica onde eu estava trabalhando era "proporcionar a melhor experiência possível ao paciente". E por isso, era quase estendido um tapete vermelho na frente de cada pessoa que entrava no estabelecimento.
A cultura da clínica era proporcionar uma EXPERIÊNCIA diferenciada e fazer o paciente se sentir um rei
Mas, muitas vezes, isso era confundido com "passividade" por alguns pacientes e estes passavam a ter um comportamento exigente e carrancudo perante a tudo que era feito na clínica, o que exigia uma outra abordagem da recepcionista, da técnica de saúde bucal, dos avaliadores, dos negociadores e inclusive de mim, quando estávamos em contato com determinada pessoa.

No começo, assim como a corrida com o relógio, tive dificuldades de entender que cada pessoa é diferente da outra, isso é óbvio, claro, contudo na prática, a comunicação do dentista deve se adaptar a cada paciente, de maneira que o seu relacionamento com ele seja o melhor possível. Por isso no primeiro mês tive que mudar o meu ritmo de atendimento e a minha comunicação com as pessoas.

Era visível que alguns pacientes me testavam, pois aparento ter muito menos idade do que realmente tenho (não acho que é para tanto haha, mas muita gente me fala isso), ao perceber que isto estava acontecendo, minha postura de explicar as coisas de forma amigável começou a passar para um comportamento onde o foco era transmitir autoridade clínica e mostrar que eu sabia o que estava fazendo e falando; Visto que tentar explicar as coisas de uma forma mais amigável não funcionava muito bem nestas situações.


Enfim, para mim esta fase foi um período de adaptação importante, pelo qual precisei passar. Como falo em outro post meu, é impossível sair da faculdade sabendo tudo e esta foi uma das coisas que aprendi depois de formado, dando a cara para bater, errando e acertando.


Obrigado e até a próxima! André Martins - Arriba Dentista